ESCALADAS PELA CIDADE
Após a volta pra cidade, tiramos dois dias de descanso total, só levantávamos pra fazer necessidades básicas. No terceiro dia já procuramos dar uma escaladinha na cidade, fomos ao setor da Burbuja, logo ali, do outro lado do rio. Escalamos umas três vias esportivas, sem nome nem grau, coisa que não existe catalogada por ali, e voltamos pro camping, pois tava ventando um pouco e fazia frio.
No dia seguinte fomos dar uma escaladinha no ginásio da cidade, mas descobrimos que estava fechado pra reforma, fomos então no locutório (onde usávamos wifi) e vimos que ia abrir uma janelinha nos próximos dias, mas ia ter precipitação na noite anterior, o que nos deixou um pouco desanimados, pois iríamos tentar uma via que seria mais dura, e escalar assim no molhado não nos animava muito.
Resolvemos esperar a próxima janela, que já vinha aparecendo no fim da previsão e parecia bem boa!
O dia seguinte amanheceu lindo, e como resolvemos ficar pela cidade, fomos dar uma caminhadinha até o calamar, setor de esportivas que fica a 7km da cidade, andando pela estrada. Entramos em algumas vias de 6b até 7c, regletera, pinças, divertido, mas bem duro. O setor é ótimo para os dias mais ventosos, pois é protegido. Na volta conseguimos ainda uma carona!
Calamar
Mais um dia de tempo bom e fomos no “campo-escola” da cidade, onde escalamos uma sequencia de 9 vias esportivas fáceis bem rapidinho e fomos comer umas empanadas!!
Descansamos mais um dia, andando só de camiseta pela cidade, impressionante! Depois fomos aos preparativos pra próxima janela, registramo-nos no parque, meio burocrático, eles pedem um seguro de vida, coisa que não tínhamos, e no final das contas,m nos deram a liberação.
CAMINHADA PRO NIPONINO
Era dia 31 de janeiro e saímos de Chaltén rumo ao niponino novamente! Dessa vez subíamos leves, sem as cordas, as costuras e os equipos móveis, o Otto ainda deixou escondido lá em cima o saco de dormir e o isolante. Caminhamos por cerca de 6h até o niponino, pegando uma ventania bem forte no frecho final, com algumas rajadas que nos faziam ter que parar de caminhar e firmar os apoios no chão pra não sermos derrubados. Lá perto, descobrimos que por pouco nossos equipos não caíram na greta! Deixamos tudo escondido em sacos em baixo de umas pedrinhas, mas em cima do glaciar, ideia idiota, pois com os dias quentes o glaciar derreteu e já tinham uns buracos se abrindo no gelo perto dos equipos. Resgatamos tudo, e chegando no niponino tivemos uma surpresa, não havia ninguém lá, fato inédito nas nossas idas ao local. Achamos estranho, ficamos pensando que poderíamos ter sido enganados pela previsão, ou olhado errado…enfim, montamos a barraca no melhor lugar, fizemos a janta e fomos dormir, a escalada do dia seguinte estava de pé!
Niponino – Casa 2
ESCALADA DA VIA VOIE DES BÉNITIERS (6C A1 400m)
Acordamos mais uma vez às 3:30, comemos nossa aveia com café e saimos ás 4:20, ótimo horário pra sair andando no escuro e se perder, preferimos fazer assim. Depois de subir mais do que deveríamos e quase chegar na base da Medialuna, percebemos que estávamos muito alto, e fora do caminho pro Mocho, descemos então e encontramos o acesso aos slabs, passamos alguns trechos molhados, outros com verglass e chegamos na base da via por volta das 8:00.
Aproximação para El Mocho, a via que escalamos vai pro
cume do pontão da esquerda.
Fotos de um postal, com croqui no verso!
A via segue pela face delgada da montanha, mas existe uma variante no início que facilita um pouco a escalada, além de livrar as enfiadas com rocha ruim. Começamos por aí, Otto tocou cerca de 100m fáceis até bater direto na P3, depois veio um 6b com uma rocha bem duvidosa, que nós achávamos que na verdade era a enfiada anterior, graduada em 6a, a escalada foi delicada mas sem maiores problemas. Depois guiei um terceiro grau e um 5+, achei que tinha parado no meio do 5+ devido ao arrasto da corda por ter emendado as duas enfiadas, puxei Otto, peguei mais algumas peças e toquei um lindo diedro, com entalamento de mão e um final de fenda larga fácil, cheguei no platô, puxei o Otto.
No 5+, início do diedro!
Parada depois do 5+
Já no 6b sem saber
Olhamos o croqui e a próxima enfiada, que seria dele, deveria ser o 6b, mas não estava batendo com o croqui, descobrimos então que na verdade já estávamos uma enfiada adiantados, e tínhamos acabado de escalar o tal do 6b achando que era um 5+ duro!
Pela primeira vez estávamos achando a via mais fácil do que no croqui, e algumas vezes estávamos mais na frente do que imaginávamos, que diria. No geral era só paulada! hahaha. Acho que a explicação é dada pelo fato de estarmos escalando só com uma mochila (que o segundo levava) com uma pluma e os tênis, já que o rapel era pela mesma via.
Sei que o Otto comemorou achando que tinha um 6b pela frente, mas depois que descobriu que na verdade seria o crux da via, um 7b+ (6c/A1 pra nós) fez cara de bravo e tocou pra cima!
Essa enfiada é bem bonita, vertical, de oposição sem descanso até o crux que dá o grau em livre (7b+) ou A1, que na verdade é um lance chave passando de uma fenda pra outra, onde tem um piton em cada uma delas, depois, mais alguns metros de oposição até o platô da P8.
Eu descansando no crux..hehehe
Toquei um 6a até o cume de um tótem, onde acaba a via Voie des Bénitiers, de lá até o cume, segue-se pelo traçado original da conquista do cume, fazendo as 4 últimas enfiadas, duas de sexto e duas de quinto da via Espolón Este. Concluímos tudo e ás 14:30 chegamos ao cume do Mocho, nosso terceiro cume da temporada, quarto nas agulhas de Chaltén! Contemplamos o visual por alguns minutos e descemos.
6a estranho da Espolón Este
5 bão pra chegar no cume!
Cume!! Cerro Torre ao fundo
Nós na última parada!!
O rapel foi bem tranquilo, conseguimos rapelar quase tudo com apenas uma corda, chegamos de volta ao niponino às 7:30 bem cansados das pernas.
Rapelandooo
No mocho os rapéis são quase todos chiques…
…quase todos.
O niponino agora estava cheio, tinha gente que ia pra Chiaro di Luna, gente que estava voltando do Cerro Torre, e os dois dias seguintes prometiam ser bons! Nós tínhamos como plano inicial escalar a agulha La’S, pelo lado que estávamos, esse itinerário inclui uma caminhada de aproximadamente 6h, uma escalada de três enfiadas de 5 grau e mais umas 6h pra voltar pro camp. Devido ao cansaço acumulado demos por encerrada nossa temporada pelas agulhas de Chalén e voltamos pra cidade, caminhando em dois dias, bem lentamente, comendo toda a comida que restou e comemorando uma temporada de muita SUERTE!!!
DIAS EXTRAS
Ainda tínhamos alguns dias na cidade antes de voltar pro Brasil, escalamos uma via bem legal no Cerro Rosado com um vento que nos empurrava pra cima, fomos com o Bernardo e a Luciana em uma fissurinha de dedo bem dura em algum lugar no bosque, e no último dia, escalamos “La Nueva”, no Paredón de Los Condores, uma via com cinco enfiadas curtas, com um crux de 7a bem estranho, e algumas passadas mistas bel legais!
Paredón de Los Cóndores visto da janela da barraca
Terminamos assim nossos 25 dias em El Chaltén, depois foram cerca de 30 horas de viagens até chegar em casa. Valeu DCC por mais essa expedição!!
Próximo post vem com o vídeo da trip!
Boas escaladas!!!