Escaladas no Sul da Itália – Sentiero Degli Dei /Path of Gods

Durante a nossa estadia em Caulônia/RC, tínhamos livres os sábados somente a partir das 14h e os domingos completos, então em um desses pequenos intervalos resolvemos fazer um bate-volta bem esticado pro pico mais próximo da região que não fosse Stilo (veja post anterior sobre Stilo).
   
Saímos de Caulônia às 14h em ponto e rodamos quase 500 Km até Agerola, já na região de Nápolis, dormimos nas redondezas em um quarto alugado e no dia seguinte fomos ao Sentiero Degli Dei, conhecido também como Path of Gods. Esse é o nome dado à uma trilha bem turística que liga Agerola à Positano, um caminho bem batido e demarcado que passa por ruínas e paisagens deslumbrantes numa encosta bem elevada colada com o mar. 
Era mês de novembro, fora da temporada de turismo no local, o que foi uma ótima pedida pra nós. Pelos meus cálculos deve ferver de turistas no verão! Mas estava super tranquilo, pouca gente na trilha, hospedagem com preço acessível, comida razoável.
Caminhamos por 30 min babando com a paisagem até que chegamos na falésia de mesmo nome. São três setores um ao lado do outro, sendo o último na beira da trilha e com várias vias incríveis, o dia estava bem frio e ali estava sol, motivo que além das chorreiras,nos fez começar por lá. Assim como em Stilo, as vias também são bem recentes, apesar da trilha ser bem conhecida. Não tinha muita informação na internet sobre escalada por lá, encontramos os croquis no app Climb Advisor, o mesmo que usamos em Stilo, nele tem todas as indicações da entrada da trilha, onde estacionar o carro, setores, vias e graus.
Me animava ter um dia completo pra poder escalar, quanto mais em um dos lugares mais bonitos que já estive na vida! Comecei pela Black Athena, um fantástico 6c de tufas para aquecer. Dani e minha irmã também brincaram nessa, enquanto a Fernanda seguiu pela trilha pra nos encontrar no final do dia em Positani.
Entrei depois na Eros Hard, 7a que me derrubou bombado com a cara na parada, mas no segundo pega achei um pesinho pra pisar dropado, e assim que clipei a parada ele quebrou! Ufa!
Fiquei olhando e analisando um tempão uma linha bonita e longa, negativa, mas nem tanto, e com algumas poucas chorreiras até que tomei coragem de entrar. Comecei a escalar a Dionísio (7b FR) com a pretensão de conhecer a via, colocar as costuras e quem sabe dar mais um pega, mas como a primeira entrada é sempre a mais inteligente e concentrada pra mim, tentei aproveitá-la ao máximo. Fui desvendando os lances e bombando cada vez mais, mas a cada passo a gana de seguir aumentava, escalei praticamente no limite da minha resistência, nem vi a última proteção antes do vertical onde fiquei um tempão descansando em um regletinho mínimo, equilibrado nos pés, recuperando 1% de força pra não vacilar e tomar um vôo de pelo menos 10m que, felizmente não ocorreu! Encadenar uma via à vista é incrível, mas a sensação de ter dado 100% é melhor ainda!
Escalamos mais uma via fácil no setor Semidei, mas já não tinha mais braço nem fôlego pra escalar mais, e o frio pegou de vez, pois o setor estava na sombra e começou a ventar forte, então começamos a caminhar de volta pro carro antes de escurecer. 
Buscamos Fernanda em Positani e seguimos pra Nápoli, onde dormimos e turistamos no dia seguinte (sim, turistamos, não tive escolha…kkk). Fim de tarde começamos a volta pra casa, a estrada de Napoli até RC é ótima, duplicada, bem sinalizada e sem nenhum buraco, éramos 3 motoristas pra dividir o volante nos 500 Km da volta.
Tudo ia bem até que senti o nosso Twingo alugado perder aceleração, fingi que nada estava acontecendo e continuei reduzindo marcha e aproveitando o embalo, de repente ele voltou ao normal. Era domingo à noite e tínhamos que estar em casa às 9h do dia seguinte pra aguardar a possível visita do fiscal de residencia (ver post anterior). Mais pra frente o carro engasga mais uma vez, ponderamos sobre o que fazer e resolvemos continuar sem parar até onde desse, e o carro volta mais uma vez ao normal. Depois da terceira engasgada e perda de potencia eu já tava conformado em passar a noite no carro e perder o dia seguinte pra resolver o problema.
Não teve revezamento, dirigi até o final e, felizmente o tanque estava cheio. Chegamos em Caulônia, estacionamos o carro em casa, desligamos pela primeira vez após a pane e ele nunca mais ligou, nem em seguida, nem no dia seguinte!!
Pois exatamente na segunda-feira de manhã, a mesma segunda-feira que poderíamos estar na beira da estrada no meio do nada, o fiscal passou e confirmou nossa residencia, nos dando liberdade pra escalar até o dia da passagem de volta!
Contactamos a locadora que nos mandou um guincho e depois substituiu o Twingo por um Jeep sem cobrar mais por isso, o que nos permitiu muito mais conforto pra trip final, que conto no próximo post.

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