Após dois dias de descanso (ver relato anterior) seguimos viagem de Reggio Calábria com destino a Roma, de onde partiria nosso vôo 5 dias depois, nos dando 4 dias livres de escalada. Traçamos a rota passando por três picos que nos interessaram nas buscas na internet: Gaeta, Palinuro e Frascineto.
Depois de algumas horas de estrada paramos no primeiro destino de escalada longe da costa: Frascineto!
Uma pequena cidade, mais moderna do que as que estivemos até agora, encostada em uma bonita montanha de calcário, com vários setores, dos quais podemos ir em 3 ou 4 deles ao longo do dia.
Escalamos algumas vias na direita do primeiro setor, estas ainda não estavam no guia, mas como nome e graduação pintados na base ficou fácil de se localizar. Depois fizemos algumas mais fáceis e seguimos procurando entender qual setor era qual, até que sem querer paramos na base da Never Mind The Bollocks, 7a+. Totalmente longe de onde achávamos que estávamos, não tive o que fazer se não provar a via! Muito boa, escalada técnica, exigente na leitura e na resistência, saiu à vista e fez valer demais a parada em Francineto!
Never Mind The Bollocks 7a+ |
Seguimos mais um pouco pela estrada e dormimos perto de Palinuro, um dos picos que mais me chamaram a atenção nas pesquisas. Uma falésia na beira do mar, literalmente!
Entramos por uma fazenda de oliveiras, caminhamos por alguns minutos até a praia meio abandonada, mais alguns metros pela areia e chegamos nos setores. Como a falésia é na beira do mar, a maré diz se você vai escalar ou não. Quando chegamos a maré estava alta, com algumas bases já molhadas, demos uma volta até o final do setor pra fazer um reconhecimento geral, ficamos babando com as paredes e cavernas!
A maré foi baixando ao longo da tarde e mais algumas bases foram ficando limpas, nesse dia escalei três vias de 6b+ até 7a+, todas com cerca de 30m porém com agarras bem variadas! Uma via de agarrões e chorreiras, outra de regletes e a última de batentes, uma mais bombante que a outra!!
No dia seguinte chegamos na praia e a maré estava subindo, de modo que sobrou apenas um setor mais recuado possível de escalar, e a via, uma das únicas escaláveis, tinha me deixado encucado no dia anterior. Muito negativa, com chorreiras e algumas linhas finas d’água se viam brilhando de longe. Mas agora não tinha escolha, escalava ela ou ficava olhando pro mar. Entrei e fui desvendando os bonitos movimentos, cheios de drops e pinças, me movia rapidamente pois não adiantava parar pra descansar, tamanha negatividade e continuidade da via. Nenhuma agarra da via estava molhada, as linhas de água escorrida não atrapalharam em nada! A cadena não saiu de primeira, caí no final da sequencia crux, bombado! Descansei uma meia hora e entrei novamente, escalei “correndo” e funcionou, cadena! Eso Es Palinuro (7b Fr) !
O plano era passar o dia seguinte conhecendo os outros setores de lá, mas a maré alta nos desanimou, o que acabou nos fazendo conhecer mais um pico fantástico já mais perto de Roma, pouco depois de Nápoles. Seguimos na estrada até Gaeta, dormimos já não lembro mais onde e no dia seguinte fomos até a Spiaggia dell’Arenauta, onde tem 2 setores, a falésia e a grota. Começamos com uma caminhada pra ver o setor da falésia, muito bonito por sinal, porém com proteções meio assustadoras, muito oxidadas, com cara de abandono ainda. Achamos estranho e seguimos pra ver a grota, chegando lá tivemos um choque, praticamente um ginásio de escalada ao ar livre.
Uma caverna impressionante, cheia de vias, proteções novas e de boa qualidade, topos de argola, etc. Cerca de 50 vias de 6a até 9a (Fr). Tudo isso em uma caverna de calcário, cheio de agarras incríveis!
Fiquei um pouco arrependido de não ter ido antes pra lá, o setor deve ser bem movimentado, as vias mais fáceis são bem polidas, mas no dia que fomos, só tinha mais uma dupla de escaladores por lá. Era meu quarto dia de escalada seguido e o rendimento tava bem a desejar…kkkk fiz um volume de sextos e deixei uma dívida chamada Is Danzas, um 7b+ lindo demais, que dei uns 3 pegas mas não consegui a cadena.
Seguimos pra Roma com um gostinho de quero mais, mas sem abrir mão de uma margem de segurança pra não perder o vôo, finalizando uma trip com muito, mas muito mais escalada do que eu imaginava!
Sem dúvida um oportunidade única de conhecer um país que me surpreendeu! Mesmo não tendo ido aos famosos picos de escalada italianos, como Arco, Dolomitas, etc. valeu demais a pena!
Eu e minhas companheiras de viagem: Taitê, Dani e Fernanda. Etna ao fundo.