Cheguei ao Rio no domingo que estava rolando a ATM (Abertura da Temporada de Montanhismo), infelizmente tarde demais para participar do campeonato, mas ainda em tempo de dar uma escaladinha no Pão de Açúcar! Após rever os amigos fui com o Arthur na Alfredão (6° VIIc E2 120m), via técnica que começa fácil e vai ficando gradativamente mais difícil e vertical, até o seu lance final, onde é o crux! Ainda descemos a tempo de assistir a final do masculino!
Vista do platô da Italianos
Depois foi uma semana de sobe e desce nas cordas, ou seja, o real intuito da viagem: conseguir a certificação de acesso por cordas IRATA 1…Como ninguém é de ferro, consegui dar um pulo no muro que tem em Niterói (Escalada Indoor Icaraí) pra dar uma treinadinha…
Sábado fui com o Felipe fazer uma das vias que estávamos planejando faz tempo, a Waldo ( 6° VIIa A1 E2 D3 330m), na face norte do Pão de Açúcar. A via é linda, especialmente suas três primeiras enfiadas, que seguem por belas fendas/diedros/chaminé que podem ser protegidas em móvel (apesar de haver grampos). Depois vem uma sequência de agarras (lacas)…uma travessia de 7a, uma sequencia de lacas suspeitas (ao longo do pescoço), um VIIc/A0 e mais uns metros tranquilos até o cume! Aí é só desfrutar da água gelada dos bebedouros do cume e descer de bondinho =)
Felipe na Waldo
Domingo foi dia de qualificação do IRATA, missão cumprida, “folha amarela” (certificação) na mão, e a preciosa liberdade pra uma semaninha de climb!!
Segunda-feira estava tudo meio molhado após um mega temporal que rolou durante a noite, a cidade ficou meio caótica, com árvores caídas, sinais apagados, etc…esse acabou sendo um dia de descanso.
Na terça os trabalhos continuaram! O Márcio Formiga me levou pra conhecer as vias do pico Perdido do Andaraí, no Grajaú. O guia de escalada de lá é bem simples e, não sei se nós que não soubemos procurar, mas nem a extensão das vias tinha nos croquis =p. O resultado é que escalamos a CEB-60 (5° VI E2 465m) e a DGM (5° VI E2 405m) e só depois eu percebi que tinhamos subido mais de 800m em pouco mais de 7h, debaixo de um sol esperto!
Formiga na CEB-60
Cume do Perdidos!
Quarta-feira fui com o Luciano (pernambucano que vai virar carioca) fazer a Italianos + Secundo, no Pão de Açúcar. Acho que já fiz essa via umas 4x mas essa foi a mais emocionante…kkkkkk Que friaca!! Estava ventando de um jeito que eu nunca vi, gelado, especialmente pra quem preferiu não levar o anoraque. Eu dava seg e quando tava começando a tremer, era hora de escalar denovo, assim fomos até o cume, em um dia muito divertido! Ah, depois disso ainda estiquei com o Felipe até a gruta do primatas, ele deu dois pegas na Orangorock e eu dei uma entrada na Religare, só pra fazer uma força, quem sabe um dia rola a cadena!
Luciano na travessia pra Secundo
No dia seguinte a escalada foi no Corcovado, fomos eu e Suzana na Fissura do Adeus (5° VIsup E2 D1 70m) + K2 (pra chegar no cume), via que eu estava fissurado pra fazer e seria o próximo passo nessa parede. Como eu já esperava, a via era linda e exigente, apesar do grau ser tranquilo, a escalada é um pouco diferente do que estamos acostumados por aqui, mas nada de outro mundo…A primeira enfiada passa por duas fissuras de dedo, protegidas com peças pequenas, onde na primeira parte ainda dá pra usar um pouco de oposição, um pé aqui outro ali, mas na segunda parte não tem pra onde fugir, tem que entalar os dedinhos e subir, lindo! Depois a via segue por um diedro com alguns grampos velhos e um crux bem definido num lance de oposição estrano, parada num grampo velho + camalot #1. A terceira enfiada é um diedro relativamente tranquilo que termina antes do “lance do palavrão”, da via K2, por onde continuamos por mais uns 60m até o cume.
Suzana na Fissura do Adeus
Eu já na K2 após a Fissura do Adeus
Sexta-feira, quarto dia de climb, fui rapidamente pela manhã com o Arthur na Chacrinha, entramos na Andrômeda, considerado o primeiro 8c do Brasil, eu tinha entrado uma vez nela e tomado um espanco. A via segue por agarras e regletes até o crux atlético e depois vem uma passada técnica, com um lance de “levitação” já no positivo, entrei sacando e caí na virada pro positivo, fiz o lance e desci. Na segunda etrada, mesmo errando umas passadas no início deu pra fazer o final certo e não respirar muito no lance do crux positivo e…cadena! Depois ainda rolou uma entrada da Meteorito (?) que ficou pra próxima!
Enquanto estávamos na Chacrinha o Igor pilhou de entrarmos na Gallotti! Quando? No mesmo dia!
Chaminé Gallotti (5° V A1/VIsup E3 D3 280m) é uma via que segue pelo vão entre o Tótem e o Pão de Açúcar, na sua face sul, foi a quarta via de acesso ao cume desta montanha e uma conquista arrojada e com histórias interessantíssimas! Chaminé suja, exposta, tensa, etc, etc… É só o que se escuta falar por aí sobre ela! Confesso que fiquei meio receoso em entrar nela de tarde (marcamos às 13h na urca), sem conhecer nada da via, mas eu já sabia que iria rolar…
Pedi uns betas pro Arthur e ele disse: “Ah, dá pra ir bem…” Era só o que faltava, peguei a head lamp e tocamos pra Urca. Lá encontrei o Igor e rumamos pra base da via, eu já conhecia a trilha e fomos tocando, subimos o trepa mato inicial, passamos por dois grampos e quando percebemos estávamos no platô onde é a P1 ainda com a mochila nas costas e os tênis nos pés. Nos equipamos e toquei uma enfiada tranquila até outro platô. Aí começa o trecho mais complexo da via, primeiro uma enfiada de 50m já com alguns lances sujos, outros expostos, nada além do imaginado.
Depois são duas enfiadas que fizemos em uma só: uma escalada florestal pela face, com muito musgo, raízes e “mato vertical” e o tal do lance do estribo, onde se faz uma ginástica pra alcançar o grmpo, depois cabem umas pecinhas cima e se faz um domínio meio bizonho pra ficar em pé no platô. Estávamos então na P5, faltavam mais duas de 50m: a oposição da meia-lua e a chaminé da gia.
A primeira pra mim foi a mais chata, passei meio torto na oposição da meia-lua e continuei por uns diedros até a P6, que é feita num bico de pedra (que não sei se foi o certo que eu usei), equalizei com um camalot .75 e ficou bonito, apesar do lugar ser bem desconfortável. Depois disso já estávamos nas luzes das lanternas e toquei a chaminé da gia, onde me encaixei relativamente bem e passei mais de boa até a parada, daí pra cima foi mais um trepa-mato até encontrar a trilha pro cume, onde chegamos após mais de 5h de espeleologia escalada!
Eu na terceira enfiada da Gallotti
Eu estava bem dolorido mas ainda tinha o sábado livre, acordei às 11h e a Suzana sugeriu um ótima opção pra um dia de “descanso ativo”: escalar aderência! A via escolhida foi a Dona Aderência (4° VI A0/VIIc E2 265m), que fica na face sul do Dona Marta. Escalamos rapidinho esticando a corda de 70m quase toda por lances bem legais de chapação de pés, encerrando assim mais uma passagem pela cidade das pedras!
Nós na aderência =)
Visu!
Escalador na via ao lado (Subiram Doistiozin)
Só entrou em via top! Muito bacana!