Após escalar no Vale do Trinidad e no Anfiteatro (ver relatos anteriores), descemos pro camping La Junta e no dia seguinte fomos escalar a Camp Farm, uma das mais repetidas de Cochamó devido ao seu acesso relativamente fácil, cerca de 40min de distância do camping, incluindo uma passagem por uma tirolesa pra cruzar o rio.
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Primeira Enfiada da Camp Farm, super delicada! |
Pela primeira vez tivemos que aguardar na fila pra escalar! Quando chegamos na base tinha uma dupla escalando e outra aguardando a vez. Começamos a escalar quase às 10h da manhã, e comecei guiando. A primeira enfiada é de corda cheia, com lances de microagarras em granito polido do começo ao fim, quase não sobra panturrilha pro resto da via! A sequência seguinte é de duas enfiadas fáceis que levam à base de um diedro exótico que, quando fica gostoso de escalar, a via segue pra esquerda por uma placa lisa. Apesar dessa fuga do diedro, a linha segue em busca de outros sistemas de fendas, sempre intercalados com lances de placa em granito polido. Passei a ponta pro Otto que seguiu da P4 até P7, onde acaba a via, passando pela chaminé que vira diedro na quita enfiada, depois por alguns lances delicados que levam à um grande platô, de onde se desce pela corda e segue em diagonal pra esquerda pra escalar a última enfiada, uma fenda larga quase invisível até que se chegue na base dela. Um itinerário meio inusitado em busca de sequencias de fendas, que rende uma boa opção de escalada em Cochamó!
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Segunda ou terceira enfiada da Camp Farm, trecho fácil.
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Como já tinha uma previsão de chuva pro fim do dia, resolvemos aproveitar o tempo e seguimos direto da Campo Farm pra o setor La Zebra, já sem nenhuma comida na mochila, pra fazer a clássica Apnea, aquela fenda de dedos perfeita que aparece nas fotos de lá!
A base da via fica teoricamente a quinze minutos do camping, talvez seja um pouco mais, e a subida é bem íngreme, mas não muito longa. Me parece que das vias clássicas essa é a que tem acesso mais curto.
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Início da segunda enfiada |
Chegamos na base e foi só alegria, vimos uma fenda perfeita que virava um diedro também perfeito. Tiramos no palitinho e Otto guiou a primeira. Fora um crux no início a via é toda 5.9, e a enfiada mais clássica ficou por minha conta, a fenda que começa com camalot 2 e quase 50m depois termina com o #0. Pena que são apenas duas enfiadas, mas essa sem dúvida não pode ficar de fora da trip pra Cochamó!
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Otto no final da segunda enfiada |
Descemos e contemplamos a chuva no dia seguinte, descansando dos três últimos dias seguidos de escalada e pensando sobre a volta pra casa, sobre a previsão do tempo e sobre mais alguma possibilidade, além de tomar muito café e comer doce de leite até cansar! Bastou um dia de chuva para armarmos um bom plano de ação pro nosso último dia: escalar a EZ Does It saindo e voltando pro camping La Junta no mesmo dia!
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Final da aproximação pra EZ |
Acordamos às 4:30 no camping e às 9h40 estávamos começando a primeira enfiada, após algumas horas entre café, caminhada no bosque, canaleta de pedras soltas e escalaminhada até a base. Subir a trilha pro Trinidad só com mochila de ataque foi uma das melhores opções! Deixamos todo o equipo desnecessário como uma das mochilas, nossos tênis, parte da comida, etc. na base da escalaminhada por onde passaríamos de um jeito ou de outro na volta. Escalamos leves, vencendo as línguas de água corrente que escorriam nas duas primeiras enfiadas. Nos molhamos menos do que imaginávamos, e seguimos pela bela sequencia de diedros que nos levou pela segunda vez ao cume do Cerro Trinidad! Passamos um pouco de frio nessa escalada, o que nos fez acelerar ao máximo! Rapelamos pela linha de rapel que tínhamos conhecido na escalada da Bienvenidos e chegamos às 19:30 de volta ao camping, após aquela velha caminhada pelas pedras soltas, depois pela trilha de descida em meio ao bosque que faz os joelhos gritarem.
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Parceriaa no cumeee! |
Fim de trip! No dia seguinte arrumamos as coisas, acertamos com o arrieiro a descida pro dia 31 cedo. E tome mais 3h de caminhada até a civilização, onde pegamos um micro ônibus que nos levou à Puerto Montt, de onde pagamos o voo de volta pra casa.
Ficamos muitíssimo felizes principalmente com a sorte que tivemos de estar num lugar tão especial e poder desfrutá-lo até nã, sem que a chuva nos atrapalhasse! Escalamos muitas das vias clássicas do local, mas existem muitíssimas opções mais. Voltando pro Brasil vimos várias notícias sobre a temporada pro lá, onde muitas novas vias foram abertas, inclusive em paredes virgens! Cochamó é um mundo de granito com infinitas possibilidades, ficou aquela vontade de voltar e provar mais algumas clássicas.
Agradeço à SBI Outdoor pelo apoio que vem se fortalecendo a cada ano, essas atitudes são muito valiosas pro crescimento da escalada no Brasil! Ao Otto pela parceria na outra ponta da corda, sempre com muita fome de pedra e tranquilidade pra resolver os problemas que surgem!