No início desse ano recebi a visita do Dagoberto Ivan, o Dago, fissurado em conquistar vias, o objetivo da trip não poderia ser diferente! Dia 02 de janeiro ele chegou em Feira antes das 4h da manhã, me encontrei com ele e seguimos pra Itatim, onde, após uma soneca regenerativa estratégica, saímos pra visualizar alguns objetivos possíveis.

Início da caminhada, a via está no centro da pedra, onde ela tem a maior extensão.
Resolvemos começar pelo Morro do Letreiro, uma pedra gigante, um pouco mais afastada da grande concentração de vias de Itatim, mas muito chamativa, pois fica na beira da BR-116, e quem vem do sul para Itatim se depara com o letreiro que dá nome ao morro: “Bem vido à Itatim”. Esta face possui duas vias, as únicas da montanha até então.
Entretanto a face escolhida foi a oposta ao letreiro, voltada pro Nordeste, onde não existia nenhuma via. Uma linha em especial me chamava a atenção, uma sequência de buracos e fissuras horizontais de baixo até em cima, na parte mais vertical desta face.
Linha definida, seguimos pra base, sob sol forte, com uma curta caminhada de cerca de 10 minutos. Escolhemos um ponto onde parecia mais fácil o início e menos quebradiço. 
Comecei na ponta e abri 30m de positivo com crux de 5sup e algumas lacas quebradiças, parando em um platô, a saída do platô teve um segundo crux, que acabou fiando meio exposto, pq não deu pra parar pra bater a chapa, mas é só passar com jeitinho que vai. Mais 20m fáceis e cheguei em mais um ótimo platô, antes de uma parede vertical, onde fixai a P1 e puxei o Dago.
Dago no final da primeira enfiada
Dago saiu pela esquerda, em um bonito vertical de agarras sólidas, onde bateu algumas chapas e usou um camalot #2, depois seguiu por um positivo técnico e um final vertical, batendo a P2 a 30m, em outra parada confortável, de onde me puxou. O fominha disse que o combinado era 60m pra cada, e seguiu por mais 30m protegendo com chapas e algumas peças pequenas, até a P3. É possível emendar essas duas enfiadas, mas o arrasto é bem grande, sendo melhor parar de 30 em 30m mesmo. Acabaram as baterias da furadeira e descemos ainda de dia.
Dago começando a segunda enfiada
No dia seguinte deixamos pra começar às 12h, pegando apenas um pouco de sol e depois curtindo a sombra que entre às 13h. Escalamos até a P3 sem maiores dificuldades e segui pela direita, fiz um lance delicado e cheguei a uma boa colocação de nut, mais um pouco e coloquei um friend pequeno em uma fissura oculta na direita, e cheguei em mais um vertical, onde bati duas chapas, algumas peças pequenas, outra chapa e cheguei em um lance positivo, mas bem liso, acabou sendo o crux da enfiada, parei antes de um tetinho, na P4.
Eu conquistand a 4ª enfiada

Dago no final da 4ª enfiada
A quinta enfiada é em vertical com pequenas agarras e tem três passadas bem definidas: um ºlance logo na saída da parada, pra dominar um tetinho com equilíbrio, depois um VIIa de micro agarras no vertical, e pra finalizar, o crux de toda a via, sugestão VIIc de pequenas agarras em um tetinho lateral…tudo muito bem protegido! A parada é em um buraco grande, bem confortável também! 
Dago saiu pela esquerda mas logo a bateria acabou e descemos, retornando na tarde do dia seguinte. Aproveitamos que faltava pouco lá em cima e subimos livrando as enfiadas, inclusive o VIIc saiu na cadena também. Dago concluiu a sexta enfiada e a parede ficou mais amigável, ele tocou mais 30m e me puxou, e eu segui por mais 30 com lances de 4º grau no máximo até o cume!
Dago começando a sexta enfiada
Última enfiada
O terceiro dia foi suave e pudemos curtir o cume, procurar com calma o livro de cume, deixado pelo André Ilha na conquista da Letras Mortas, 19 anos atrás! Infelizmente o livro estava deteriorado pelo sol e pela chuva, e não foi possível ler nada. Deixamos uma folhinha em branco que tínhamos pra desenhar o croqui, assinamos e descemos, chegando no carro na última luz do dia.
O que sobrou do livro de cume com 19 anos de idade.
Abaixo estão os detalhes pra quem quiser repetir os 260m de via, graduados em 6º VIIc E2-E3 D2.

ACESSO: Sair de Itatim em direção à Milagres pela BR-116 Sul, quando visualizar a Face Leste do Morro do Letreiro de frente, entrar na estrada local, no início da curva na BR, no pé da placa de “proibido ultrapassar”, após alguns metros entrar à direita na porteira e seguir pela estrada de terra até a segunda porteira. Estacionar nas árvores poucos metros depois da porteira, a trilha começa à esquerda e segue em direção à linha da via, facilmente identificável pela sequencia de linhas horizontais.
ESTRATÉGIA: Na época da conquista (janeiro) a sombra começava às 13h, sugiro entrar um pouco antes disso, pra ter tempo suficiente pra escalar tranquilo, depois caminhar até o cume, onde tem o livro e retornar aos rapéis ainda com luz.

Sem comentários

  1. Show. Registro bem detalhado, massa demais.

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