DESCANSO E MUDANÇA
Após a chegada em Chaltén, caminhada pro polacos, escalada na Saint Exupéry, tudo relatado no post anterior, chegamos ao nosso 3° dia de janela, neste dia acordamos às 14h! Nosso único trabalho do dia foi, além de comer e dormir, desmontar acampamento em “polacos” e descer até o Niponino, onde montamos novamente a “carpa”.

Niponino é um local de bivaque/acampamento mais centralizado, no meio do caminho pras vias das cadeias do lado do Torre e do Fitz, o nome é esse porquê ele não é nem (ni) Polacos (po), nem (ni) Noruegos (no, outro” camp avançado” pro rumo do Torre).

Nova casa – Niponino
MEDIALUNA – VIA RÚBIO Y AZUL (6C, 350m)
Acordamos no dia seguinte às 3:30, comemos um sanduíche que deixamos pronto na noite anterior com um pouco de café solúvel (esse foi feito na hora), a idéia era sair cedo pra ninguém entrar na nossa frente dessa vez, iniciamos a caminhada às 4h.
A boa notícia é que dessa vez não iríamos precisar de botas nem grampons, pois o acesso tinha só uma nevesinha tranquila que dava pra fazer de tênis. 
A caminhada que fizemos…se é que podemos usar esse nome, começou por uma moraina que foi ficando cada vez mais ingrime e cada vez com blocos de pedra maiores e mais medonhos, sabíamos que estávamos errados, mas no final ia dar certo. Passamos desse trecho que deve ter sido o mais perigoso e emocionante do dia inteiro e chegamos em um trecho mais plano, já amanhecendo, daí pra cima subimos uma sequência de slabs (rampas de pedra), até a neve pertinho da base da via. talvez teria sido melhor ter esperado o sol nascer pra enxergar por onde andar! Só na descida descobrimos que o caminho mais tranquilo era mais pra frente, e não passava nem na moraina suicida, nem nos slabs.
Amanhecendo
Slabs…
Medialuna!
Após o embaço todo da caminhada, começamos à escalar às 7:00 e logo chegou uma dupla de escaladoras na base da via. Otto começou na frente e tocamos revezando as três primeiras enfiadas, cotadas em 5 e 5+ em um diedro de fenda larga, que vai aumentando até virar chaminé, bem estranho, mas lá fomos. Chegamos então no tão falado 6b, me deparei com duas opções: uma fenda fina de dedo, a qual fugi logo ou um diedro de fenda larga pra escalar em oposição, meio molhadinho, ruim de proteger e começando em um platô, felizmente o lance era curto, coloquei umas duas peças, ensaiei, fui-não-fui, olhei pra cima de novo e fui, uma peça ruim mais pra cima, roubadinha básica e passei do crux, depois a enfiada segue bonita pra cima, sem aliviar muito, mas melhor um pouco pra proteger.
 Primeiras enfiadas

 Primeiras enfiadas

 Paradinha

Fina da enfiada de 6b
As escaladoras estavam na parada antes deste 6b quando perdemos contato visual, seguimos por duas enfiadas mais fáceis até o cume do primeiro pontão, desescalamos um pouco pro lado até achar a sequência das enfiadas seguintes. guiei um 5 impressionante, fissura de mão do começo ao fim, contínua, entalando mão e pé, tranquila, desfrute! Otto entrou na sequência no 6a menos amigável mas não menos impressionante, mesmo estilo, só que com as fissuras afinando no final. 
 Cerro Torre e seus vizinhos ao fundo, tão perto e tão longe!!

 Efeito do sol

Fissura de 6a antes de entrar na chaminé!
Essa hora o sol ardia, escalamos de segunda pele sentindo o pescoço fritar! Fiz mais uma enfiadinha em chaminé e entramos no “buraco”, na verdade uma grande chaminé que funciona como um freezer, dentro dele está o crux, um  diedro vertical de 6c, oposição, fenda larga, quase toda em camalot #3, felizmente levamos um #4 também que salvou! Era a vez do Otto, que negociou com os camalots e umas fitas pros pés, e passou rápido por ali, tentei em livre e mesmo sem mochila ainda dei umas duas paradas pra descansar, mas a enfiada é linda!
Crux!
Depois mais uma fissurinha saindo por baixo de um tetinho pra esquerda e estamos quase no cume! Mais uma enfiada trepa pedra e cumre!!!!
Eram 16h, estávamos tranquilos, pudemos gastar um tempinho a mais nesse cume, mas sem muita enrolação, desescalamos a última enfiada e começamos os rapéis.

Cume!!!
O rapel é por uma linha um pouco diferente da escalada, seguimos o croqui do rapel do guia e no segundo rapel de 50m, a corda prendeu em um tótem lááá em cima, olhamos um pro outro, o Otto puxou com muita força e ela correu!! Mais umas puxadinhas e ela veio! Seguimos rapelando já não mais pelo rapel indicado no guia, que seria todo fixo, pois não achamos essas ancoragens, mas caímos naturalmente no diedro da via Gratton-Martorelo, que apesar de não serem as rarar ancoragens fixas, não ofereceu nenhum problema, seguimos descendo e no final vimos uma movimentação de gente pra lá e pra cá na base da via.
Rapelando…
Quando chegamos no chão descobrimos que uma das meninas se machucou ao cair no 6b do início, felizmente a parceira dela conseguiu descê-la e o pessoal que estava no niponino subiu pra ajudar na descida da trilha, ajudamos um pouco também na logística de “melhorar a moraina”, limpando um pouco as pedras mais soltas e construindo uma “trilha” pra ela poder descer melhor. Eram mais de 20h quando chegamos no niponino de volta, e uma equipe de resgatistas voluntários de Chaltén já estava chegando para levá-la de volta à cidade da melhor forma possível.
Dormimos, um pouco pensativos, mas sabendo que tudo estava bem. Acordamos no dia seguinte com o tempo já começando a mudar, desmontamos acampamento, escondemos nossos equipos lá por cima, já pensando na próxima janela e descemos mais leves pra cidade, pegamos uma chuva bem chata e um ventinho na volta.
Chegando em Chaltén ouvimos muitas histórias de escaladas nesses cinco dias de janela!! Começamos então nosso período de engorda e escaladinhas pela cidade enquanto a próxima janela não vinha.
Continua…

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