Segunda-feira tiramos o dia para escalar algo mais pesadinho, após a realização da Mulambada (evento para iniciantes que realizamos em Brejo) no final de semana.
Fui com o Miguelito fazer a Deuses Esquecidos (5º VIIIb/A1 A2 E2 220m), na Serra do Ponto, com a intenção de tentar encadenar as duas últimas enfiadas da via, que já tinham sido livradas, porém sem cadena (a penúltima eu tinha feito de top e a última com quedas), quando entrei com Otto da vez passada.
Começamos a caminhada às 4h40, e às 6h estávamos na base da via.
Início da trilha
Miguel tocou a primeira enfiada, onde já rola um crux de 7c ou A1, ele passou “meio-a-meio” e terminou a primeira enfiada sob leve garoa. Guiei a segunda passando por uma rampinha suja no fator 2, depois por um diedrinho que olhando parece fácil, mas é bem estranho, terminando numa aderência meio musguenta. Terminamos assim a parte fácil e rápida da via, andamos no platô de mato até o início da próxima enfiada e havia uma nova plantação de urtigas, que Miguel gentilmente removeu pela raiz. Miguel começou guiando, passando pelo artificial fixo, alguns parafusos, entrando no diedro em móvel, chegando em umas colocações melhores desceu e me passou a ponta da corda, de cara coloquei a próxima peça, parecia boa, dei uns pulinhos no estribo e ela nem se mexeu, quando coloco o peso tomo uma vaca, a fenda é escorregadia por causa da sujeira/merda de morcego…voltei, passei um lance que eu não lembrava ser tão chato, meio saindo dos cliffs e dominando um platôzinho meio em livre, pra continuar mais uma sequencia em móvel e chegar nos grampos do final da enfiada, já em livre. Demoramos muito nesse trecho, chegando no fim da enfiada ao meio dia, com o sol rachando, e assim seria até o final!
Platô da P3
Miguel no início do Artificial (4ª Enfiada)
Restavam agora duas enfiadas, a primeira delas é curtinha, cerca de 15m, conquistada originalmente em artificial, protegida em móvel com um grampo perto do fim . Entrei em livre carregado de peças, mas acabei usando três friends e uma costura no grampo, felizmente a cadena saiu, mas já tava batendo o cansaço…
Miguel jumareando a 5ª enfiada
Platô antes da última enfiada
Ainda tinha a última enfiada, que da outra vez eu tinha feito com algumas quedas, mas fazendo todos os movimentos, eu achei que seria difícil, mas que dava pra fazer, porém antes de entrar eu estava totalmente tranquilo quanto à possibilidade de não conseguir encadenar, não seria um problema, chegar no cume e achar uma sombra já seria perfeito. Conquistamos essa enfiada quase toda em artificial com cliffs de agarras, de buraco e grampos, muitos grampos, são 18 costuras, sem contar as das paradas, ao longo dos 40 m verticais.
Comecei e já passei aperto no início, vertical com micro agarras, cristaizinhos de pegadas estranhas, e cada vez piores, ainda não sei como, mas em uma fração de segundos achei um pé salvador quando estava preste a cair, e consegui recuperar e tocar mais alguns lances delicados até um trecho positivo no meio da enfiada, onde dava pra descansar um pouco, saindo do positivo quando a sapata começava a fritar, começa a tortura, trecho técnico com um lance mais chato que o outro, e quando você pensa que acabou, tem um pior acima. Primeiro tem um lance onde você sai de um pé bom, e tem que abraçar uma laca, chapar os pés no nada e fazer uns lances de oposição, o grampo tá no pé e a queda é bem na rampinha abaixo, antes de entrar nesse lance, fiquei uns 10 minutos tentando entrar sem sucesso, até que tive a brilhante ideia de laçar o grampo, felizmente eu tinha uma fita de 120 de nylon, e o grampo estava providencialmente com o olhal alguns milímetros distante da pedra, lacei e passei o lance, quase não consegui parar pra costurar o grampo com uma costura de verdade, por falta de posição, costurei quando ele já tava abaixo da minha cintura, e nada de lugar pra descansar, as agarras de mão melhoraram, mas eram todas laterais, uma merda pros pés, aí vem um lance exótico, duas canaletas, uma ao lado da outra, com uma coluna abaolada no meio, as pernas vão em tesoura e o corpo em oposição pra esquerda até passar pelo lance meio negativo. Mas acha que no vertical vai aliviar? Ainda tem mais dois lances tesourando pra chegar em uma linha de regletes pra mão, são ótimos e salvadores, mas o problema é dominá-los pra ficar em pé neles, e quando você fica em pé neles, suas mãos estão no cume, mas o cume é abaolado, então tem que pagar uma viradinha de boulder, pra concluir as 7 vezes que tive certeza que eu ia cair e não caí!
Cheguei na parada, meio sem acreditar que eu não tinha caído, fixei a corda e o Miguel veio jumareando enquanto eu recuperava o fôlego e esperava em uma sombrinha.
Acho que apesar de não ter lances isoladamente mais difíceis que 8a, a última enfiada vale um 8b pelo conjunto da obra, ou seja, as intermináveis sequências de lances “derrubáveis” após o crux. Aguardamos confirmações!!
Chegamos no cume às 14h30, caminhamos até o Sítio Amaro, de onde fomos resgatados de moto pelo Silas e pelo Zé do Ovo, no caminho pro abrigo tomamos uma chuva boa pra esfriar a cabeça!
Graduação Atualizada!
Luciano W. e eu conquistamos essa via em 2011, em um total de 05 dias de trabalho, repeti ela com o Otto em 2012 e no mesmo ano, durante o Festival de Escalada Tradicional, Mário e Minhoka fizeram a primeira repetição sem conquistadores. Esta foi a terceira repetição da via, que está em plenas condições para receber novos escaladores, em livre ou em artificial! Valeu a parceria de todos!!!
Parece ser bem maneira!!!