Lá pro mês de julho passado recebo um e-mail com um croqui e uma mensagem: “vamo lá em setembro?”. O croqui esse que está aqui em baixo e a resposta já dá pra saber né…
Croqui da via, muito bem feito!
Otto e Lu subiram de carro de Curitiba até Minas Gerais fazendo um rolé pelas praias e pedras no caminho, me encontrei com eles em Governador Valadares/MG e de lá seguimos de carro até São José do Divino, onde fica a Pedra Riscada, em busca da Divina Liberdade!
Pra chegar em Governador Valadares eu saí de Recife na quinta-feira (18) de tarde de avião, cheguei em Confins às 21h, daí mais 1h de ônibus até a rodoviária de BH pra poder pegar o último ônibus pra Governador V., às 0h. Cheguei lá e me encontrei com eles às 6h da manhã, quando partimos pros últimos cento e poucos km’s até a Riscada.
Chegamos na cidade, tomamos um café da manhã despreocupadamente na padaria e fomos rumo à Pedra Riscada, ainda sem planos definidos de quando começaríamos a escalada, rodamos os 30km de estrada de terra até a base da pedra, foi quando decidimos que era a hora!
Primeira visão da Pedra Riscada, ainda encoberta, em São José do Divino/MG
A pedra é impressionante! Uma massa enorme de rocha com faces extremamente verticais cheias de canaletas por todas as partes. A aresta amarelada por onde passa a via “Place Of Hapiness” é de cair o queixo! A pedra Filhote, um “pequeno” pontão de 600m grudado ao maciço da Riscada, onde há uma via vertical/negativa com um crux de 9c é de fazer chorar de emoção!
Pedra Riscada, acima a vista da face de trás, ainda encoberta.
Abaixo a face da Divina Liberdade vista da estrada!
Se realmente era a hora eu não sei, meu relógio já marcava 10h da manhã, mas foi então que começamos a preparar as mochilas: 16 costuras, 01 cordelete de 60m pro rapel, 4 litros d’água, 4 sanduíches duas maçãs, anoraks e headlamps.
Planejávamos subir leves e tentar chegar ao cume com luz, e então rapelar de noite e chegar à base a hora que fosse. Como a Lu não queria correr o risco de ser atacada pela onça, como fomos alertados na padaria, ela nos deixou na pedra e voltou pra cidade. Ficamos com o que iríamos usar pra escalar e mais um “kit bivaque” que deixamos na base da via, pra pernoitarmos após terminarmos a escalada, pois nosso “resgate” só chegaria no dia seguinte pela manhã.
Após uma meia hora de caminhada achamos a base da via e começamos a escalar! Já era 10h40 da manhã, um horário não muito comum em vias de mil metros…O Otto já tava conformado em passar a noite pendurado na cedeirinha. kkkkkk
Primeira e segunda enfiada
Ele começou na ponta da corda e tocou as três primeiras enfiadas, alcançando o primeiro grande platô. Nesse trecho já deu pra sentir que cristaizinhos fariam parte do nosso dia de escalada, estilo Pedra da Boca total!! Entrei então na enfiada tecnicamente mais difícil da via, um vertical craquento com 3 chapas, graduado em VIIa, quando costurei a segunda me quebra uma agarra de mão pra eu ficar esperto, consegui segurar com a outra mão e vamo que vamo. Ainda na mesma enfiada, já na parte fácil começou a chover!! Eu tava entre um grampo e outro quando em cerca de 10 segundos tudo ficou molhado e escorregadio, fui administrando e escalando lentamente até o próximo grampo, pensamos que ia babar a escalada e torcemos pra que a Lu ainda estivesse lá embaixo, por sorte lá estava ela ainda tirando algumas fotos. Bom, eis que lentamente consegui chegar na parada, puxei o Otto e quando ele chegou já não havia mais chuva e a pedra estava praticamente seca! Continuamos escalando e a Lu se foi, pra voltar somente no dia seguinte.
Otto no primeiro platô e eu chegando lá.
P4 pós chuva
Otto já tocou mais três enfiadas na sequência, acho que um dos trechos mais psicos da via, com alguns esticões de VI grau em agarras quebradiças, felizmente a única que quebrou não o fez cair também!
Guiei mais quatro enfiadas, um trecho de caminhada e chegamos na base da P12, onde finalmente paramos pra fazer um lanche e respirar por alguns minutos…
Otto tocou a 12ª enfiada, em seguida passando por um trecho de caminhada até iniciar um linda canaleta por onde passavam mais duas enfiadas e após a canaleta a 15ª enfiada, que termina na árvore onde a via cruza com a “Bodífera Ilha”. Nesse trecho a rocha ja é bem mais sólida, ainda passando por cristaizinhos, com trechos polidos, mas a escalada flui melhor, com menos possibilidades de vacas.
Otto na 12ª enfiada
16ª enfiada
Da P15 toquei até a árvore da P19, com trechos de rocha “mais ou menos” e passando por uma mata onde não deu muito tempo de apreciar a vegetação. Parei na base da última enfiada difícil da via, a canaleta vertical da 20ª enfiada.
Otto foi na frente e deu graças a Deus por esse trecho estar molhado durante a conquista da via, o que fez com que o Ed se sentisse mal “por ter de bater mais chapeletas do que as que teriam sido necessárias”, imaginando como seria se tivesse seco na empreitada…hahaha
Como se não bastasse a chuva na quarta enfiada, quando o Otto tá no meio da canaleta…chuva de novo! Ele conseguiu terminar e já emendou na última enfiada. Passar naquele trecho molhado, mesmo de segundo foi desagradável, ainda bem que não era minha vez!
Canaleta da 20ª enfiada
Na última parada da via olhamos no relógio, que marcava 15h50, ficamos felizes em ter terminado e de quebra ter feito em um tempo legal, mas estávamos na metade, ainda tínhamos 21 rapeis pela frente e 2h de luz, começamos a descer rapidamente pra tentar chegar em segurança ao chão.
Foram ao todo 17 rapeis de corda dupla, 03 com uma corda , 1 enfiada e meia fáceis desescaladas e uns 200m de caminhada, até a base. Otto durante a subida colocou fitinhas refletivas nas paradas que estavam sem, o que nos ajudou muito no trecho que rapelamos de noite. A corda só prendeu uma vez, mas felizmente próximo da parada, escalamos rapidamente o trecho pra desprendê-la e continuar a descida. Levamos umas 3h e pouco pra descer, chegando no chão às 19h.
Após jantarmos 100g de macarrão e uma lata de atum pros dois, passamos a noite mais calorenta do ano em Minas Gerais, dormindo nos nossos isolantes na base da via, não batia nenhuma brisa! O cansaço e as dores nas pernas e pés eram tão grandes que dormimos felizes! No dia seguinte granola com chá mate foi o cardápio do café da manhã, o que nos deu forças pra uma caminhadinha até a estrada principal, onde a Lu nos resgatou! Tomamos um banho e nos alimentamos pra pegar a estrada e curtir o próximo destino: Serra do Cipó, mas isso rende outro post.
A escalada foi incrível! Valeu Dilsinho pela parceria, Lu pela paciência, Zé pelos betas, aos conquistadores pela via e à natureza pela Pedra Riscada!!!!
Cauí e Otto – Pedra Riscada!
Aqui você encontra todas as infos da via! Recomendadíssima, escaladÃO!
Traçado das vias da mesma face da Divina
Boa Caui!!!! parabens!!!!, falei que quebrava agarra!!, kkkkkk, arranquei uma na primeira chapa desse VIIa. abração