Da última (e primeira) vez que fui a Sítio Novo, escalamos duas das três vias conhecidas do local, faltou a terceira. Localizada na outra face (face norte) e ainda sem nenhuma repetição após a conquista em 2008 encontra-se a “Muléstia da Cachorra”, aberta pelo Bernardo e pela Mariana.
Após conseguir alguns betas revirando os e-mails descobrimos a localização aproximada e mais algumas infos da via que nos clarearam as idéias! Agora era só procurar e tentar escalar! É claro que levamos equipo pra conquistar algo por lá também no tempo que nos restaria.
Saímos (Rodrigo, Michele e eu) de Recife na sexta de tarde, dormimos em Serra Caiada onde anexamos o Denn e Eveline no bonde e partimos pra Sítio Novo no sábado cedinho. Rodrigo e Michele foram escalar a Cavalo de Tróia e nós fomos procurar a via…segundo Denn era sombra o dia todo, pura ilusão!
Denn na “Muléstia das Cachorra”
Achamos a base da via e começamos a escalar e logo o sol começou a pegar, Denn tocou a primeira enfiada já emendando com a segunda, totalizando quase 70m de escalada, sendo a primeira parte uma aderência/agarras tranquila mas sem possibilidade de proteger e depois um belo diedro até a P2. Fiquei com a segunda enfiada, que tem início no final do diedro, passando por dois grampos e entrando em uma canaleta bem delicada, protegida com duas peças pequenas. Segundo as infos deveria ter feito uma parada no final da canaleta, no único lugar possível, meio esquisitinho pois depois disso vem uma rampa até o cume, preferi esticar a corda de 70m e fui subindo até o cume, onde lacei os blocos de um antigo cruzeiro e puxei Denn e Eveline. Eles precisaram escalar um trecho em simultâneo pois pra chegar no cruzeiro são cerca de 80m, mas é bem tranquilo. Cume! Deu pra fazer os 150m em 2 enfiadas, acho que foi uma boa opção.
Cauí na “Muléstia das Cachorra”
Última parada da via.
A via é linda e possui o mesmo estilo da Banho de Lua, na face sul, aproveitando ao máximo o uso de proteção móvel (existem boas opções ao longo da via) e evitando ao máximo bater grampos (sim, duas coisas distintas….hehehe), são só 2 ao longo da via sem os quais eu não ousaria passar por ali.
Cume!
Encontramos a drupa da Cavalo de Tróia no cume descemos pro camping, que diga-se de passagem está sendo muito bem organizado pelo grupo de escoteiros da região, onde esperamos o sol baixar um pouco pra depois voltarmos pra face norte.
Galera no fim da Cavalo de Tróia
Rodrigo e Michele voltaram pra Serra e lá fomos nós pra conquistar uma nova linha ao lado da Muléstia das Cachorra! Mais cedo tinhamos observado uma linha bonita passando por um diedro gordo na primeira metade da parede e seguindo pela face até o cume. Sob o vôo da águia chilena começamos o trampo, o diedro começava láá no alto, então…toca-toca até chegar nele pra poder proteger, esse lance foi tenso, as agarras não são muito sólidas, melhor não cair. Chegando num platô no início do diedro dá pra colocar um camalot #2 bomba e começar a brincar com as peças grandes, o diedro é grandão, eu escalei hora diedrando hora entalando braço/ombro, talvez dê pra fazer de off width, usei o #6 e o #5 (esse no limite da abertura) e se tivesse algo maior usaria tb! kkkk Chegando mum bloco grande no diedro, antes de ter que passar pra direita, domina-se o diedro e vai por cima até um platô formado pela grande pedra encostada na parede que forma o diedro. Chegamos na P1! Duas fitas laçando os blocos/lacas são uma boa opção. Puxei o Denn e comecei a segunda enfiada, agora sem fendas e em um lance mais difícil, bati dois grampos e fixamos a corda para descer e voltar no dia seguinte, pra tentar passar ali com a luz do dia e poder sair por cima (já que deixamos as coisas na base).
Começando a conquista
Início do diedro e a águia de olho!
Diedro da primeira enfiada da “Quinta Virtude”
Primeira parada da “Quinta Virtude”
Domingo de manhã subimos a trilha, a corda fixa e continuamos a conquista, ainda tive que bater mais 2 grampos onde achei que daria pra passar sem, o lance era mais delicado do que imaginei e não cabia nada de móvel, mas ficou bacana! Depois mais uma pecinha, outro grampo alguns lances nos cristais extratégicamente posicionados, rampinha e cume! Essa enfiada ficou com uns 65m e termina em uns blocos no cume, exatamente alinhados com a via onde dá pra montar uma parada bem legal!
Eveline e Denn subindo pra continuarmos a conquista
Le crux! morde o cristal e sobe o pé alto!
P2!
Cume! Denn/Cauí/Eveline
Descemos pela trilha e nos encontramos com nossos amigos que nos buscaram pra irmos embora! A paciência é a “Quinta Virtude” e o nome da via exalta a virtude de Jó que Rodrigo e Michele tiveram pra não nos deixarem pra trás na manhã (que quase virou tarde) de domingo!
Acesso: Pra chegar na face norte basta subir a trilha que começa na face sul e leva ao cume, após algumas rampinhas, já quase no cume ela bifurca, entrando à esquerda logo se vê dois blocos grandes de pedra em cima do lajedo, aí é só passar por eles, descendo a rampa (aqui já se vê a face norte) e seguir a trilha pelo rio seco até alinhar-se com as vias (os diedros são visíveis de longe), depois é só seguir em direção à elas.
Vista da face norte após a bifurcação. Dá pra ver as duas vias,
a muléstia bem na silhueta e a outra mais pra cá um pouco…
Descida: chegando no cume pela face norte, siga pra direita descendo até visualizar uma formação rochosa no chão, parece um grande poste derrubado, siga andando por cima dele, a partir daí a trilha segue óbvia até o camping.
Aproveitei a viagem e fiz o croqui das duas vias pra quem quiser repeti-las!
Serra de São Pedro (Face Norte) – Sítio Novo/RN
Vermelho: Muléstia da Cachorra
Azul: Quinta Virtude
Foto: Arquivo pessoal Menger
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