Após um dia inteiro de viagem, Otto e eu chegamos à cidade de Itatim na Bahia, teríamos 9 dias de escalada pela frente nos diversos e impressionantes monolitos da região. Nas fotos a seguir e nos vídeos que irei publicar de pouco em pouco vocês verão que não é pouca coisa não!
A cidade fica a cerca de 200km de Salvador e 100km de feira de Santana, metade do caminho pra Chapada Diamantina.
Sábado de noite chegamos e encontramos a galera, e no domingo pela manhã começou a pancadaria! Fomos conhecer as novas vias do Morro da Fonte: Touro (6sup), Ságitário*** (7a), Virgens*** (8a) e Capricórnio (7a móvel) e ainda rolou de inaugurar a Escorpião Engembrado (7c) que o Filipe equipou na hora.
Eu na Touro (6sup)
Soneca
Filipe abrindo a “Escorpião Engembrado”
Eu na Capricórnio
No mesmo domingo me levaram pra conhecer as vias do Morro do Napoleão, entrei na Jesus que Calor*** (7c), Cagaço de Calango*** (7b) e Congestão (7a), os filés do setor segundo Otto. Todas com 30m e geralmente com uma saída forte uma escalada flúida até o final da via.
Segunda foi dia de conquista: fomos conferir dois diedros na parte de baixo do setor Jararaca as quais o Otto tava de olho antes de se mudar p/ Recife. Na base da primeira via damos de cara com o ser que dá nome ao setor, uma jararaca tava de bobeira por lá! Quando ela foi embora o Otto se equipou e foi tocando, colocando umas peças boas, passou o crux que demos VIIa todo em livre e cheio de troço pendurado, furadeira e tudo mais até chegar abaixo de uma espécie de chaminé horizontal, optando por tocar por baixo, numa linha de agarras, batendo a parada antes das abelhas (poisé, paramos por aqui…) de onde me puchou. Estava aberta a Jararaca*** (VIIa E2 30m).
Otto na Jararaca
Eu na Jararaca
Descemos da Jararaca e continuamos na trilha até o próximo diedro, não sei qual dos dois é mais bonito, e agora era minha vez =D. Comecei tirando um pouco de terra das fendinhas pra proteger e logo foram aparecendo ótimas agarras, saí do diedro e toquei pra direita em um positivo de boas agarras, menos protegido mas bem mais fácil de escalar, bati uma parada nos 30m, antes do trecho em que a parede fica mais vertical. A segunda enfiada ficou bem curtinha, com uns 15m passando por um diedrinho de VIIa também, que custou mais caro pra passar. Mais uma via: Dente de Ouro*** (5° VIIa E3) 45m.
Eu na Dente de Ouro
Otto na Dente de Ouro
Eu na Dente de Ouro
Croqui da parte de baixo do setor Jararaca
O Otto tava com umas idéias mirabolantes de escalar todas as vias da Toca (8 vias de 180m) em um dia, ou todas do Enxadão (3 vias de até 350m), eu vi que o ritmo tava forte e sugeri que tentássemos isso logo, se não iríamos ficar cada dia com mais preguiça. Ele já tinha feito as vias da Toca com o Julio Francês, mas na época eram 5 vias. Eu só conhecia uma delas, e lá fomos nós pra apresentação das demais em um dia!
Terça-feira às 6h da manhã estávamos na base do Morro da Toca pra começar a empreitada.
Morro da Toca
Escalamos a Diretíssima (3° V E2 180m) em 40min carregando três cordas que deixamos em uma linha fixa de rapel. Depois fizemos o Arco da Toca*** (VIIa 120m) em 1h, que era a única que eu conhecia e a mais difícil tecnicamente. Curupira (4° VI E3 180m) veio na sequência já iniciando a utilização de equipo móvel, levamos também 1h. Toca pra Cima*** (3° VIsup E3 180m) 55min. Lapsos de Memória*** (6° VIIc/A0 E3 75m), na face sul foi a mais demorada, levamos 1h10min por ser a mais trabalhosa, utilizando bastante proteção móvel nos buracos e canaletas disponíveis ao longo de seus 75m verticais, lindíssima! Nossos descansos eram no chão, bebia água, comia um biscoito, esconde mochila, guarda equipo, pega equipo…alguns deles foram até bem longos, meia hora…Depois escalamos a Via Expressa*** (3° V E2 180m) em 19min, não deu mto tempo de apreciar mas é uma ótima via com a proteção relativamente boa e só agarrão do início ao fim! Pra fechar fizemos a Foda-se*** (3° VI E3 180m) em 38min e a Mulambo*** (3° VI sup E3 180m) 50min duas vias nota 10 também.
Muito bonita a escalada nessa pedra, as vias de forma geral são protegidas em móvel, mas não há fendas perfeitas apesar da proteção ser boa, existem canaletas e buracos no grantio amarelado e bastante sólido, muito bom memso!
Cume da Toca (2ª vez no dia)
Eu no Arco da Toca
Eu na Curupira
Ao todo foram 11h de trabalho, escalamos quase tudo em simultâneo, exceto na Arco, na Lapsos e na Diretíssima quando levamos as cordas, e se desse pra graduar tudo como uma só via, o troço seria o seguinte: D4 5° VIIa (VIIc/A0) E3 1275m. A brincadeira é ótima e bastante cansativa!
Cume da toca (8ª vez no dia, kd o sorriso??)
Nosso tempo era pouco pra lista de coisas a fazer que tinhamos em mãos, optamos por descansar em Recife quando voltássemos, sendo assim, escalamos a Ladeira da Igreja*** (2° VI E3 360m) na Ponta Aguda, esta é a única via da pedra e tem uma primeira parte bem positiva que dá acesso ao grande platô a +- 2/3 da parede, depois vem a enfiada crux, um VI em móvel que passa por uns blocos um pouco assustadores, felizmente nada se moveu enquanto estávamos lá. O visual do cume da Ponta Aguda é muito bonito, dá pra ver quantas montanhas existem por perto!
Ponta Aguda (a via segue pela aresta da esquerda)
Eu na Ladeira da Igreja
Cume da Ponta Aguda!
Visu do cume!
No dia seguinte fomos atrás de mais uma via pra conquistar, a parte de trás do Morro da Fonte aparentava ter uma linha de diedros do início ao fim, cerca de 60m. Não foi tão simples assim, o início era bem sujo e fraturado o que nos fez iniciar mais pelo lado, pelas agarras batendo algumas chapeletas até encontrar o diedro novamente, agora em sua parte boa, protegida por uns 3 camalots #4, como só tinha um o Otto foi arrastando ele p/ cima. A segunda enfiada foi por uma fenda um pouco suja e cracolenta depois uma horizontal num tetinho com peças grandes também, essa parte foi em artificial, mas deve rolar de livrar depois, mas chegando no cume não queríamos mais nada a não ser descer pra sombra! Estávamos quase passando mal de tanto sol na cabeça, isso que dá conquistar ao meio dia na Bahia: Quem pode Foge (VI A1 E3 55m).
Otto na primeira enfiada
Eu na segunda enfiada
Croqui by DCC
Havia mais uma linha interessante pra conquistar, dessa vez em uma pedra atrás do Morro da Fonte, negociei com o Otto a troca da endurance do Enxadão pela conquista dessa via e lá fomos nós na sexta-feira. Pra começar um pouco de trilha aberta no peito até chegar na base da chaminé, 40m de chaminé até passar por um buraco e “nascer” denovo. De lá mais 70m de face, em agarras e um pouco de aderência com uma chapa aqui outra na casa do car*#$% ali. Lápides Voadoras (4° V E3 120m), o nome foi dado devido à imensa laca de cerca de 3cm de largura por 2m de comprimento que estava inacreditavelmete presa pela ponta e com todo o resto no ar, a qual o Otto após uma operação de engenharia a mandou pra baixo.
Otto na Chaminé da Lápides Voadoras
Eu na segunda parte da via
Croqui by DCC
O grau de “sifudência” da trip alcançou seu limite e resolvemos dedicar os próximos dias às esportivas. Sábado fomospra Toca Sul e entramos na AVC*** (8c), Parkson*** (7b) e T.O.C.*** (7c), as melhores do setor, além da Lapsos de Memória, segundo Otto e Filipe, eu não discordo. Todas sairam de prima =)
Ainda deu tempo de ir pro setor Casca Grossa, onde existem 3 vias em móvel e 1 fixa. Entrei na Lamúrias de Morcego, um 7b misto que o crux é costurar a parada, foi suado mas saiu na primeira também, diferente da Xambrisvaldo, um teórico 7a num diedro meio polido e com umas lascas dentro da fenda que atrapalham o sistema..kkk, tentei e não fu bem sucedido, passei a bola pro Otto que passou o lance, depois eu fui limpando, a via ainda não possui cadena.
Eu na AVC (8c)
Eu na Lamúrias de morcego (7b)
Otto na Xambrisvaldo
Finalmente, os dois últimos dias dedicados ao setor Jararaca, um super nagativão incrível onde o Filipe abriu uma via nova, a Si ne qua nono. Não sei se foi a estratégia correta deixar isso pros últimos dias mas…foi o que deu. No domingo provamos a via, que tem uma movimentação exdrúxula, principalmente quando o Otto tá escalando, hahaha. Demos dois pegas cada um, o primeiro foi sofrimento p/ isolar, e no segundo eu continuei sofrendo e o Otto encadenou a bixona! 9a?
No último dia voltamos pra lá, dei mais um pega e encadenei também, enquanto isso o Otto começou a conquistar a linha ao lado, depois eu terminei o que seria a Bruxa*** (8a?) uma bela via que ficou como projeto, pois já não restava mais força nem pra carregar a mochila, quanto mais pra ficar pendurado naquele teto, o pior é que eu caí na última agarra da via, que ainda estava bem suja…essa ficou pra próxima trip!
No último dia voltamos pra lá, dei mais um pega e encadenei também, enquanto isso o Otto começou a conquistar a linha ao lado, depois eu terminei o que seria a Bruxa*** (8a?) uma bela via que ficou como projeto, pois já não restava mais força nem pra carregar a mochila, quanto mais pra ficar pendurado naquele teto, o pior é que eu caí na última agarra da via, que ainda estava bem suja…essa ficou pra próxima trip!
Jararaca!
Otto na Si ne qua nono (9a)
Filipe na Si ne qua nono (9a)
Otto na conquista da Bruxa (8a)
Eu na conquista da Bruxa (8a)
Soneca denovo
Bruxa!
Dessa vez fizemos muuuuitos vídeos, bem mais do que fotos, de modo que pra começar vai esse clipe com algumas imagens de tudo, depois vou postando os vídeos de cada coisa separadamente, pra poder mostrar tudo direitinho.
Trip Itatim 2012 (curto) from Cauí Cunha on Vimeo.