Quando começamos a pensar nessa conquista, visualisamos uma linha sem vegetação, na qual se chegava ao cume da montanha escalando, portanto, a caminhada seria mais longa, pois a base é mais elevada. A primeira parte era positiva e a segunda bem vertical e possivelmente sem agarras, o que forçaria trechos em artificial fixo, depois visualisamos um diedro quase na linha pretendida, resolvemos passar por ele, o que deixou a conquista mais bacana!
Segunda-feira, dia 15 de agosto nós deixamos de analizar e rumamos pra base da parede. Com a ajuda da galera de Brejo (Silas e Zé do Ovo) eu e Luciano Willadino subimos a trilha da garganta (caminhada q leva ao cume) com todo equipo de conquista e poucos grampos, a idéia era fazer o transporte e procurar bem a melhor linha pra começarmos. Chegamos rápido ao local que queríamos, organizamos a base e começamos a conquista. Nesse dia sairam os primeiros 30m, algumas proteções móveis no início, e um lance de VIIc ou A1 e depois a via fica mais positiva, com lances de IV e muita vegetação na rocha (Tilanzias). Finalizamos o dia assim, terminando de subir a trilha pro cume, de onde voltamos pra Brejo em uma caminhada de cerca de 2h.
Na terça-feira o pé do Luciano, recém recuperado de uma fratura no tálus já dava sinais de reclamação, descansamos e nos preparamos pra subir no dia seguinte com equipo de bivak e o resto dos grampos e baterias que tinhamos que levar. Inocentemente achávamos que iríamos terminar a via nesses 2 dias.
Saimos na quarta antes das 5h da manhã com uma chuva fina, que não parou antes das 12h. Começamos a escalar às 14h após a pedra secar, tocamos mais uns 50m de IV ou V grau e descemos pra base, deixando uma corda fixa. Rango feito na fogueira com a lenha úmida e capotamos.
A quinta-feira amanhaceu chuvosa também, mas não durou muito e começamos a jumarear às 8h. Nesse dia guiei um diedrinho em móvel meio sujo, terminando por um positivo também com musgos chegando ao grande platô de mato no meio da parede, antes dela ficar mais vertical. O Luciano deu início ao trecho em artificial fixo, alternando grampos e parafusos. Descemos ainda de dia para fazer o início da trilha de volta com luz e devagar por causa do pé doente, agora só estávamos nós dois e é fácil de se perder por lá.
Descansaríamos sexta e voltaríamos no sábado para mais um bivak até domingo. Sábado acordamos 3h30, tomamos café, arrumamos as coisas e o Luciano disse que o pé tava mal ainda, precisaria de mais um dia de descanso. Voltamos a dormir e mais tarde acordei e fui com a galera escalar na Bicuda, fiz a Rei das Coxinhas com a Aurelie e dei umas boas entradas no projeto Sr. Ninguém, caí com a mão no agarrão do bote! tá quase!!!
No domingo subimos munidos de 4 baterias carregadas e equipo pra dormir na parede, mais uma vez iludidos com a idéia de sair pelo cume. Subimos as cordas fixas, levando o peso de água pra dois dias, comida, grampos e baterias dentro do Raul (nosso Haulbag feito de saco de sal). Toda essa logística demorou bastante e nesse dia terminamos o trecho de artificial fixo e entramos na fenda, também em artificial, fizemos boa parte dela, bem lentamente e descemos pro platô, onde passamos uma noite super desconfortável, pois o platô não era nada plano (imagina dormir em uma escalada) e a chuva caiu a noite quase toda, pelomenos não fez frio.
Segunda-feira jumareamos, terminamos a fenda, na verdade fugimos pra uma linha de agarras ao lado dela, chegando a um platô de mato menor, puxamos o Raul e conquistei o segundo trecho em A2, chegando a um platô, antes do headwall. Bati a parada chamei o Luciano e já sabíamos que não iria dar tempo de sair por cima, pois já era tarde e tinha mais uns 40m de conquista até o cume com graduação na casa do sétimo possivelmente. Mesmo assim o Luciano bateu mais dois grampos, foi quando começou a chover, nos apressamos em descer com a dúvida de deixar ou não cordas fixas pra próxima empreitada. Como não tinhamos data prevista e teríamos que voltar pra Recife no dia seguinte, descemos com tudo. Eis que no penúltimo rapel uma das cordas prendeu…continuamos a descida e deixamos a corda do ultimo rapela passada nos grampos pra no dia seguinte irmos buscá-las.
Como já era noite dormimos na base novamente, foi a pior noite pois a chuva caiu forte e nossa lona não tava aguentando muito. Na terça saimos em retirada levando os equipos, mas ainda deixamos algumas coisas na base para buscar no dia seguinte, além das cordas presas. A chuva continuou durante o dia e o cume da montanha estava dentro das núvens, o que nos fez dar umas voltas a mais, perdidos com pouca visibilidade pra ter referências, mas refizemos o caminho e acertamos o rumo, chegando em Brejo sãos e salvos, cansados e abatidos e sabendo que o serviço ainda não foi concluído…hehehe
No dia seguinte, pra variar o Luciano ficou choramingando por causa do pé, resolvi aproveitar que o tempo estava bom e subi sozinho pra buscar os equipos que faltaram. Consegui desprender a corda e descer com tudo. FIM
A via em si não é muito grande, quando concluída terá menos de 250m, mas possivelmente será por si só a via mais demorada de Brejo, creio que seja um D3, o que torna a escalada mais comprometedora é o fato dela estar em um local de acesso difícil e demorado. Aventura garantida!
O croqui até o momento ficou assim:
e enquanto isso eu fazendo a porra de um exame de qualificação de Doutorado !! INVEEEEJAAAA !!!!